Vanguarda verde: edição destaca projetos e iniciativas com tecnologia industrial, restauro radical e uso inteligente de materiais em prol de um futuro mais sustentável
Evolução, desenvolvimento, progresso. Três palavras de significados próximos, capazes de encerrar universos em si próprias. Três vocábulos inerentes à condição humana em diversos âmbitos – biológico, social, material, espiritual. Três objetivos consciente e inconscientemente buscados. Três termos capazes de carregar dos mais elevados propósitos aos mais torpes pretextos para toda sorte de violência.

Ao longo de boa parte da história do que podemos chamar grossamente de civilização capitalista globalizada, e daquela do Brasil especificamente, fomos e somos uma sociedade e “um país tomado pela lógica da fronteira, da expansão a qualquer custo, da colonização de novos territórios’, da vandalização ambiental, da vagarosa construção de uma sociedade de consumo cada vez mais desigual”, como sugere o escritor José Henrique Bortoluci no brilhante O Que É Meu (Fósforo, 2023, 144 págs.). Declarar que a lógica do progresso à base da devastação não funciona é chover no molhado de tragédias pluviais como as do sul da Bahia em 2021, do litoral norte paulista em 2023, do Rio Grande do Sul em 2024. E, no entanto, a (re)afirmação demonstra-se a cada dia mais necessária. É o que esta edição da Casa Vogue se propõe a fazer.
Não é de hoje que as Nações Unidas apontam a construção civil como o segundo setor da economia mundial que mais emite gases do efeito estufa. Parte dessa responsabilidade recai sobre arquitetos, urbanistas e paisagistas que ainda não se atentaram para o ameaçador aumento da temperatura planetária, ou não foram capazes de se fazer ouvir diante de uma indústria que insiste em manter práticas irresponsáveis. Neste número, procuramos trazer alguns exemplos de profissionais dessas áreas que remam contra a corrente da destruição.

Rodrigo Ohtake, certamente, é um deles. O projeto de sua nova casa de campo, uma residência modular de alto padrão que, mesmo saída de uma fábrica, consegue manter os traços e as cores que distinguem seu autor, não está na capa à toa. É tanto uma proposta viável de arquitetura de menor impacto quanto uma injeção de otimismo no nosso meio – faz lembrar a frase que seu pai, Ruy, costumava repetir: “O arquiteto que tem medo de ousar nunca vai ser de vanguarda”.
Vanguardista também é o trabalho do paisagista francês Thierry Jacquet, responsável por criar jardins flutuantes pelo mundo (inclusive no Brasil) capazes de purificar águas poluídas usando apenas plantas. Trata-se de um olhar para soluções que a própria natureza possui, mas para as quais todos viramos as costas nos últimos séculos. De séculos atrás, aliás, eram três casas no interior mineiro cujas demolições recentes não escaparam ao radar do holandês Wilbert Das. À moda de um Zanine Caldas contemporâneo, ele resgatou paredes, estruturas, portas e janelas e transportou-as para o sul da Bahia, onde deu nova vida à primeira dessas moradas coloniais, repaginada para os dias de hoje.

O restante da revista está coalhado de outros exemplos de arquitetos e designers comprometidos em algum nível a não transformar os próximos anos em um futuro de ruínas. No cerne da atuação de todos, um questionamento ao a evangelho do crescimento a qualquer custo”, como coloca Bortoluci. Por que não contestamos mais essa ideia tão presente em tudo o que discutimos e fazemos é algo a se pensar seriamente. Para ontem. Boa leitura.
Fonte: Casa Vogue